
Pesquisa coordenada pela Profa. Ana Lúcia Andrade é capa do jornal "O Popular"
Mais pobres enfrentam mais riscos de adquirir pneumonia
Pesquisa da UFG aponta que crianças menores de 3 anos estão mais sujeitas ter pneumonia e doença pneumocócica
Patrícia Drummond
A pneumonia está inversamente associada ao nível socioeconômico. É o que revela uma pesquisa inédita, realizada em Goiânia, por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG). Coordenado pela infectologista e epidemiologista Ana Lúcia Andrade, professora do Departamento de Saúde Coletiva do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) da instituição, o estudo mostra que o risco de adquirir pneumonia é 80% maior em áreas socioeconomicamente desfavorecidas – caso da Região Noroeste da capital - em comparação com áreas de melhor condição socioeconômica. O resultado da pesquisa foi apresentado no dia 13 deste mês, em São Paulo (SP).
“Historicamente, a Região Noroeste, em Goiânia, sempre enfrentou problemas, com carência em diversas áreas. O estudo finalmente conseguiu mensurar o que, antes, já se sabia, mas não em números: quanto maior o nível econômico das famílias, menor a carga de incidência das doenças pneumocócicas invasivas”, destaca a professora Ana Lúcia. A pesquisa, denominada Latin American Epidemiologic Assessment of Pneumococcus Invasive Disease (Leap), concluiu, ainda, que crianças menores de 3 anos de idade estão sob risco de contrair pneumonia e doença pneumocócica, sendo que as menores de 2 anos apresentam maior risco, especialmente na faixa etária entre 6 meses e 1 ano.
Luiz Felipe, de 2 anos e 7 meses, se encaixa no perfil descrito pelo Leap. Filho mais velho de um casal residente no Bairro da Vitória 3, há um mês ele sofreu por causa de uma bronquite. A mãe, a dona de casa Rosângela Cristina Quiele, de 26, conta que o menino continua tomando os remédios prescritos pelo médico que o atendeu, à época, no Centro de Assistência Integral à Saúde (Cais) do Jardim Curitiba. “O médico recomendou bombinha, mas acho que não vou dar, porque tenho medo de viciar. Dizem que bombinha vicia”, acrescenta Rosângela.
Segundo ela, Luiz Felipe já teve faringite, quando “ficou com a garganta travada” e precisou fazer tratamento. Dessa vez, diz a dona de casa, o filho apresentou sintomas de gripe, além de respiração ofegante e dificuldade para respirar. A ida ao Cais – um, entre os dois únicos existentes na Região - diagnosticou a bronquite. Luiz Felipe tem um irmão mais novo, Alcino Henrique, de 6 meses, que, de acordo com Rosângela, nunca mostrou sinais de doenças pneumocócicas.
Também moradora da Região Noroeste da capital, no Jardim Curitiba 1, a dona de casa, Ana Lúcia Bezerra Rufino, de 22, recorreu, na última semana, ao atendimento do Cais local por causa da filha caçula, Ana Clara, de 8 meses. “Ela está com o peito chiando muito; a gente sempre fica com medo de ser pneumonia, né?”, argumenta a jovem, mãe de outros dois filhos, Marcos Henrique, de 2 anos, e Lucas, de 5.
De acordo com Ana Lúcia, o caso de Ana Clara, felizmente, não foi diagnosticado como pneumonia. Mesmo assim, a menina está sendo medicada com antibiótico. Conforme diz a mãe, os filhos mais velhos nunca apresentaram sinais mais graves de doenças pneumocócicas, “só mesmo tosse e essa coisa de chiadeira no peito, de vez em quando”.
Carência histórica
A Região Noroeste - onde vivem Rosângela Quiele e os filhos Luiz Felipe e Alcino Henrique, e Ana Lúcia Rufino e os filhos Ana Clara, Marcos Henrique e Lucas - está localizada a uma distância aproximada de 15 quilômetros do Centro da capital. Limita-se, ao Norte, com a zona rural (Córrego Pinguela, Ribeirão São Domingos e Rio Meia Ponte); ao Sul, com o Ribeirão Caveirinhas; a Leste, com o Setor Balneário Meia Ponte (Córrego do Capim e Rio Meia Ponte); e, a Oeste, com a Rodovia GO-070, que liga Goiânia a Inhumas e à cidade de Goiás. A população do local corresponde – segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - a pelo menos 10% dos habitantes da capital, espalhados em mais de 30 bairros.
A história de formação da Região Noroeste aponta para as dificuldades enfrentadas por seus moradores: ela foi formada a partir da segunda metade da década de 1970, quando surgiram as primeiras ocupações urbanas, na bacia do Ribeirão Caveirinhas. Essas ocupações, inicialmente, surgiram através de invasões – primeiro, clandestinas; depois, sob o patrocínio do poder público, já na década de 1980, visando legalizar e minimizar os problemas surgidos.
O início por meio de invasões sempre foi um aspecto característico relevante da região, na medida em que, como acontecimento social, obrigou o poder público a buscar soluções para o problema da moradia em Goiânia. Todos os parcelamentos urbanos de baixa renda implantados na Região Noroeste ocorreram à revelia da legislação municipal.
Fonte: O Popular
http://www.opopular.com.br/anteriores/22abr2010/home/
Source: O popular